Seu navegador não suporta java script, alguns recursos estarão limitados. Programa Segurança Pública em Foco discute a Política Antimanicomial do Poder Judiciário - Conselho Nacional do Ministério Público
Comissão do Sistema Prisional
Publicado em 16/8/23, às 13h28.

15 08 23 seguranca publica em foco“A Resolução nº 487/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mexe em todo o sistema prisional e de segurança pública brasileiro. A norma tinha de ser discutida antes de sua implementação, mas ainda é tempo. A gente tem de trazer esse tema porque, mais cedo ou mais tarde, ele chegará à sociedade, ao Ministério Público, às Defensorias Públicas, à sociedade em geral. Por isso, é extremamente importante ouvirmos especialistas." A afirmação é do presidente da Comissão do Sistema Prisional, Controle Externo da Atividade Policial e Segurança Pública (CSP) do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), conselheiro Jaime de Cassio Miranda, feita nessa terça-feira, 15 de agosto, durante a apresentação do programa Segurança Pública em Foco.

Promovido pela CSP e transmitido pelo canal do CNMP no YouTube, o Segurança Pública em Foco de hoje recebeu o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, e o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP) Rogério Sanches. Ambos abordaram aspectos relacionados à Resolução CNJ nº 487/20123, que instituiu a Política Antimanicomial do Poder Judiciário.   

O objetivo da resolução foi estabelecer, no âmbito do processo penal e da execução das medidas de segurança, procedimentos e diretrizes para implementar a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência e a Lei nº 10.216/2001, que trata da proteção e dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. 

Uma das mudanças propostas pela Política Antimanicomial do Poder Judiciário é o fechamento gradual de hospitais de custódia, destinados aos tratamentos psiquiátricos no Brasil, e o atendimento dessa parcela da população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Essa e outras ações previstas na Política têm sido alvo de debates e divergências entre psicólogos, psiquiatras e a comunidade médica em geral, gestores públicos e da área de saúde mental.  

Em reação, ao argumento de que normas dessa natureza e extensão devem ser aprovado pelo Congresso Nacional, foi proposto, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 81/23, que suspende a resolução do CNJ. No dia 9 de agosto, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados e segue para análise do Plenário daquela casa legislativa.

Sem participação médica  

15 08 23 seguranca publica em foco 2Em sua apresentação, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, criticou a ausência de médicos nas discussões que embasaram a edição da resolução do CNJ. “É estranho, já que o tema é médico, não ter a representatividade de nenhuma instituição médica. Nem o Conselho Federal de Medicina, que é uma autarquia, foi convidado para participar. E eu, que fui presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina e atual presidente da ABP, não fui ouvido”.  

O psiquiatra destacou que 12% dos presos possuem doenças mentais graves e necessitam de tratamento. “As mais de 600 mil pessoas que estão cumprindo pena também adoecem e precisam de tratamento. Elas vão para onde, já que não existem mais os hospitais de custódia? Vamos botar todas em hospital geral, que não dá conta de atender o que temos de tratar?”.  

Como exemplo de boa prática, o presidente da ABP mencionou o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Jorge Viana, em Barbacena/MG. A instituição conta com 39 profissionais. Entre outros, há quatro médicos clínicos, cinco psiquiatras, quatro psicólogos, três assistentes sociais e sete enfermeiros. A instituição realiza cinco tipos de modalidade: medida de segurança, exames de sanidade mental, exames de dependência toxicológica, tratamento psiquiátrico temporário e exames de cessação de periculosidade.    

15 08 23 seguranca publica em foco 3O promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Rogério Sanches também criticou o fato de a comunidade médica não ter sido convidada para participar das atividades do grupo de trabalho do CNJ constituído para criar a resolução. Sanches reconheceu que o Conselho teve boa intenção, mas afirmou que “a política antimanicomial deve ser prioridade, mas isso não significa extinguir hospital de custódia e abolir internação. Significa preferir, sempre abalizado pela medicina, o tratamento ambulatorial, sendo a internação a última opção”.   

Entre outras questões, o membro do MP/SP salientou que a Resolução nº 487/2023 é inconstitucional por exorbitar o poder regulamentar conferido pela Constituição Federal ao CNJ. “As resoluções, ainda que editadas pelo CNJ, não se confundem com as leis em sentido formal, pois não podem modificar a ordem jurídica vigente, devendo se restringir a interpretá-la com a finalidade executório-administrativa, nunca com força de intervir na atividade jurisdicional ou de criar direitos, obrigações ou restrições para agentes não integrantes do Poder Judiciário”.   

Para concluir, o promotor de Justiça reforçou a sugestão de que se transfira a administração dos hospitais de custódia para as secretarias de saúde, com a vigilância das secretarias de administração penitenciária, responsáveis pela segurança. Assim, segundo ele, o "hospital de custódia sai das asas da segurança pública, da secretaria de assuntos penitenciários. Vai pra secretaria de saúde, que é onde tem que estar. Uma administração típica de saúde, mas com predicados de segurança pública: com escolta, etc.". 

Segurança Pública em Foco   

O programa Segurança Pública em Foco tem o objetivo de estreitar o diálogo e a integração entre os órgãos envolvidos nas temáticas vinculadas à CSP e os participantes da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), como o CNMP, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Conselho Nacional de Justiça. As edições estão disponíveis no canal do CNMP no YouTube

Assista aqui ao programa   

Veja aqui mais fotos  

Fotos: Sergio Almeida (Secom/CNMP).

Matéria relacionada   

Política Antimanicomial do Poder Judiciário estará em debate no programa Segurança Pública em Foco do dia 15 de agosto  

 

Secretaria de Comunicação Social
Conselho Nacional do Ministério Público
Fone: (61) 3315-9424
jornalismo@cnmp.mp.br 
Twitter: cnmp_oficial
Facebook: cnmpoficial
Instagram: cnmpoficial
YouTube: conselhodomp